O último lugar por onde passei na Bolívia foi Puno, conhecido por dar lugar às ilhas flutuantes. Daqui atravessei a fronteira até ao Perú. Divididos pelo Lago Titicaca, o lago navegável mais alto do mundo, Bolívia e Perú têm uma das fronteiras mais bonitas da América do Sul. O Perú sempre me despertou imensa curiosidade. Não sei se pelo nome, se pelo facto de ser o lugar onde está o Macchu Picchu, ou talvez por ser o país que deu origem aos Pisco Sours (ou Será o Chile? Ambos dizem ser!). Um país grandioso, cheio de cultura e com uma história que retrocede 13 milénios de ocupação humana, desde a civilização pré-inca até aos dias de hoje. Hoje em dia é um dos países da América do Sul com mais população indígena.
Vou-vos dar a minha recomendação de um roteiro de 2 semanas pelo Perú. Eu estive 1 mês e meio (26 de Maio a 17 de Julho) e ainda ficou muito por ver. Naturalmente que, visitando o país em 15 dias, não se consegue absorver tanto a cultura dos lugares por onde se passa, mas é tempo suficiente para experimentar as maravilhas deste país. Algo a não esquecer enquanto se visita o Perú é que precisamos de tempo para nos adaptarmos às altas altitudes.
Qual a melhor forma de viajar no Perú?
As distâncias no Perú são grandes e perde-se bastante tempo em transportes. Se estivermos limitados/as em termos de tempo, recomendo viajar de avião entre destinos. Assim, aproveita-se muito melhor o tempo. Latam e Peruvian são duas airlines que funcionam bem no Perú. Eu desloquei-me sempre de autocarro, o meio de transporte mais barato do Perú. Penso que talvez seja até o país da América do Sul onde é mais barato viajar de autocarro. Os autocarros são bons, no entanto há alguns registos de acidentes fatais pela má qualidade das estradas. Por esta razão, aconselho viajar com as melhores empresas: Cruz del Sur e Oltursa, que oferecem mais conforto e confiança.
Peru Hop também é bastante recomendado e muito popular entre backpackers. É um serviço privado de transporte hop on-hop off. Com apenas um bilhete, este autocarro leva-nos de uma cidade para a outra, podendo ficar o tempo que quisermos nos vários lugares. Oferecem também algumas tours a preços especiais e descontos em certos hostéis. Recomendo vivamente a quem viaja sozinho e queira conhecer outros viajantes. No entanto, se quisermos viajar com locais e estar mais perto da sua cultura e costumes, esta não é a melhor opção. Foi por esta razão que não escolhi o Peru Hop, mas tenho de admitir que é uma opção conveniente, fácil e segura.
Onde ir?
Há uma cidade obrigatória para qualquer tipo de viajante – Cusco – (cuzco em espanhol). Situada no Vale Sagrado dos Incas, na região dos Andes, Cusco está a 3500 metros de altitude. Há muito mais no Perú para além das cidades turísticas de que todos já ouvimos falar. O meu percurso está marcado no mapa abaixo: entrei por Puno, segui para Cusco, Arequipa, Huacachina, Lima, Huaraz e finalmente Máncora. Entrei no Perú no dia 26 de Maio e saí no dia 17 de Julho e ainda ficou muito por ver.
Se entrarmos no Perú pela Bolívia, muito provavelmente iremos até Copacabana, onde se pode apanhar autocarro e barco até Puno. O percurso mais popular entre os mochileiros é seguir de Puno até Cusco e depois Arequipa. Se viermos do Norte do Chile, faz mais sentido ir a Arequipa primeiro, Puno e depois Cusco. Se viajarmos desde fora do país, até Lima, então aconselho que nos concentremos apenas na metade Sul do País, de Lima para baixo, caso contrário anda-se a saltar de Norte para Sul e a perde-se bastante tempo. De qualquer forma, as maiores atrações estão concentradas nessa mesma área. Se tivermos mais alguns dias, sem dúvida não podemos deixar de ir até Huaraz e quem sabe Mancora, que já ficam na parte Norte do país.
Puno (2 noites)
A maior atração em Puno são as ilhas Uros que já existem desde a era pré-colombiana e que foram construídas com o objetivo de manter o povo em maior segurança e evitar o domínio de outros povos, como os Incas. Estas ilhas no lago Titicaca foram construídas à base de totoras, plantas aquáticas típicas desta zona. É surpreendente a forma como eles constroem as suas casas sobre múltiplas camadas destas planta e o grande trabalho de manutenção que está envolvido. Ao todo são à volta de 90 ilhas e mais de 300 famílias que ali habitam. A cidade de Puno em si não tem muito para oferecer para além de estar localizada na periferia do lago Titicaca. A isla del Sol e isla de la Luna também são pontos de interesse que justificam uma visita, no entanto, pertencem à Bolívia e por isso é bem mais barato visitá-las desde Copacabana. Já as ilhas flutuantes, é aconselhável visitá-las quando já se está em território Peruano.
Em Puno, quando se vem de Copacabana, o autocarro para na estrada que fica próximo do porto de onde partem os barcos para as ilhas. Por isso, muita gente opta por fazer o passeio para Uros no mesmo dia. Eu preferi fazer com calma, deixar a mochila no hostel e ir no dia seguinte. Para chegar até às ilhas pode-se ir numa tour privada ou comprar apenas o bilhete do barco e ir. Sai bem mais barato e, de qualquer forma, há sempre locais a explicar a história das ilhas quando chegamos.
Cusco (3 noites)
Cusco é uma das minhas cidades preferidas da América do Sul. Há uma magia nesta cidade, talvez por ser a capital do Império Inca e ter tantas histórias para contar. A arquitetura colonial é encantadora. Mesmo tendo tido uma experiência menos boa em Cusco, onde passei 3 noites no hospital com Salmonela e tifóide, a minha opinião não mudou. Estive em Cusco na altura da celebração do Corpus Christi, que acontece em finais de Maio, inícios de Junho. Se for possível ir nesta altura, consegue-se viver a cidade com outra dinâmica, participar nas tradições e costumes dos Cusquenhos e, claro, festejar com eles nas praças, que ganham uma nova vida! Chegando a Cusco, não se pode deixar de visitar a Plaza de Armas, o mercado de San Pedro, e deixar-nos perder pelo Bairro San Blas. Aconselho ficar em Cusco durante 2 dias antes de seguir para o Macchu Picchu. Este tempo de adaptação à altitude é bastante importante!
Machu Picchu (day trip ou 1 noite)
Há várias formas de visitar esta cidade dos tempos Incas.
- Pode-se fazer uma day trip, apanhar o comboio até Aguas Calientes e daí subir 1 hora a pé, até à entrada do MP. A viagem de comboio é cara, acima dos 100 dólares ida e volta, no entanto é uma opção prática, confortável e a maneira mais rápida de se chegar até lá.
- Se se viajar com um budget reduzido, pode-se apanhar um autocarro até à hidroelétrica e daí caminhar até aguas calientes. Não aconselho voltar no mesmo dia, porque é bastante puxado a nível físico e pode-se não chegar a tempo de apanhar o autocarro de volta para Cusco, que sai por volta das 15h da hidroeletrica. Pode-se ficar a dormir em águas calientes e aproveitar para conhecer o pueblo mais próximo do Machu Picchu.
- Inca Trail, Inca Jungle, Salcantay trail, Chaski trail, e não acaba aqui. São muitos os trajetos disponíveis para chegar até ao Macchu Picchu a suar e com mais músculo nas pernas! O Inca trail está entre os mais populares, já que é o caminho original que levava os Incas desde o Vale Sagrado até ao Machu Picchu. Os preços também variam bastante, mas posso aconselhar a explorar estas opções quando se chegar a Cusco. Comprando online antecipadamente vai sair bem mais caro, porque não se tem a possibilidade de regatear e assim conseguir um melhor preço. Pode-se ler mais aqui sobre todas as alternativas disponíveis.
Arequipa (3 noites)
Arequipa foi uma surpresa muito agradável. É uma cidade linda, conhecida como a ciudad blanca. Aconselho a fazer a free walking tour, uma tour pelo centro histórico que ronda normalmente 2 horas e funciona à base de tips. Uma pessoa local leva-nos a conhecer a cidade e conta um pouco da sua história, política e economia. Foi uma das melhores walking tours que fiz em toda a America do Sul! É também uma ótima forma de conhecer pessoas.
Colca Canyon (1 noite)
Arequipa é normalmente a base para quem quer ir ao Colca Canyon numa day trip. O Colca Canyon é um dos canhões mais profundos do mundo! Foi um dos trekkings mais bonitos que fiz no Perú. Escolhi fazer o percurso de 2 dias, que inclui dormida no Oasis Sangallle em Cabanaconde. No total, nos 2 dias, caminha-se por volta de 20Km. É bastante puxado, principalmente o segundo dia em que se acorda às 5 da manhã para começar a subir. Pode-se escolher fazer o percurso de 3 dias, ou ir mesmo por conta própria. O problema desta última opção é que podemos perder-nos no canhão, sem um guia. Se se optar por ir sem guia, é preciso assegurar que temos tudo assinalado no mapa!
Nazca (stopover)
Há quem aproveite para parar em Nazca, quando a caminho de Huacachuna. Já devem ter ouvido falar nas linhas Nazca, os desenhos enormes nas areias do deserto, cuja origem se mantém um mistério até hoje.
Huacachina (1 noite)
Huacachina parece que foi transportado dos desertos de Africa. É um pequeno oásis, localizado apenas a 10 minutos da cidade de Ica. De lago de cor verde e rodeado de palmeiras, este lugar é popular entre os amantes de desportos outdoors, como sandboarding, skiboarding e dune buggies. Não há muito mais para fazer em Huacachina.
Lima (2 noites)
Não morri de amores por Lima, mas saí de lá com uns quilinhos a mais! Na minha opinião é uma daquelas cidades que é para ser vivida, mais do que para ser visitada. Aconselho experimentar vários restaurantes e, obviamente, o marisco fantástico que esta cidade oferece. Lima foi considerada recentemente a capital gastronómica da América Latina. Uma boa forma de conhecer a cidade e perder as calorias ganhas com todo o ceviche que se come, é caminhar pelo El Malecon, uma marginal de 10Km rodeada de parques, em Miraflores. Relativamente ao bairro para ficar hospedado, aconselho Miraflores ou Barranco. Miraflores é um pouco mais turístico e Barranco um bairro mais boémio e artístico.
Que outros lugares no Perú vale a pena visitar?
Se tivermos apenas duas semanas, provavelmente não conseguiremos visitar muito mais do que os lugares que mencionei. Nestas duas semanas conseguir-se-á ver bastante e conhecer a maioria das maravilhas que o Perú tem para oferecer. No entanto, se tivermos mais tempo e o objetivo for chegar até ao Equador, ou quem sabe se se estiver a vir do Equador em direção ao Sul, não se deve deixar de conhecer Máncora e Huaraz. Mancora é sinónimo de praia, calor, surf e diversão. Gostei tanto do hostel onde fiquei que acabei por ficar lá 1 mês! Chama-se Misfits e é um sonho.
Huaraz rima com montanhas, lagos azuis turquesa e caminhadas, muitas caminhadas! A laguna 69 é talvez uma das atrações mais populares do norte do Perú. Laguna Churup é outro lugar mágico e um bom trekking para nos adaptarmos às altas altitudes. Se um dia de caminhada não for aventura suficiente, então o famoso Santa Cruz trekking tem o que se deseja!
O Peru, além de oferecer montanhas, praias, cidades, também dá lugar à selva Amazónica! Iquitos é um bom ponto de partida para conhecer as profundezas da Amazónia. É aconselhável apanhar um voo de Lima até Iquitos, já que a distância é muito grande de qualquer uma das outras cidades.
Olá ☺️
Antes de mais obrigada por todas as dicas que deixas no blog, são muito úteis para quem está a planear viagens 🙂
Estou a planear uma viagem de 2 semanas em Junho pelo Peru. Estava a pensar em acrescentar mais uma semana, mas estou indecisa entre Colômbia ou Bolívia. Qual aconselhas visto apenas ter uma semana?
Obrigada e beijinhos
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Olá Sofia! Obrigada pelo teu feedback 🙂 Diria que aproveitarias mais na Bolívia, pois podes ir diretamente do Deserto de Atacama para o Salar de Uyuni e é uma viagem incrível! So Salar de Uyuni podes ir para Potosi ou La Paz. Uma semana na Colombia não ias aproveitar muito sendo que é um país gigante! Boa viagem! 🙂
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