Norte da Argentina: um espetáculo de formas e cores

A Argentina é um dos países com mais diversidade paisagística da América do Sul. Já vos falei sobre o Sul, a Patagónia, onde puderam também ver fotos de montanhas cobertas de neve, glaciares, lagos e parques. Ora, o Norte da Argentina (o Noroeste Argentino, como os Argentinos costumam chamar) também tem muitas montanhas, aliás até fica situado a uma altitude mais elevada do que o Sul que pode chegar até aos 5 mil metros, no entanto estas montanhas são bem diferentes. Estou a falar-vos deste tipo de montanhas: coloridas! Imaginem isto misturado com desertos de areia e sal, cactos gigantes e mais montanhas coloridas. É uma energia completamente diferente.

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O espetacular Cerro de las 14 Colores

Se ainda não vos convenci a não deixar passar o Norte do País, tenho muito mais para vos contar.

Cheguei a Salta diretamente desde Córdoba num autocarro noturno que demorou 12 horas. É comum viajar-se em autocarros noturnos para evitar perder um dia em que se podia estar a descobrir a cidade ou mesmo para poupar uma noite de estadia num hostel (truques!). Cheguei bastante cansada mas pronta para explorar Salta, uma cidade que é conhecida pelas suas igrejas e catedrais de estilo colonial. No mesmo dia subi ao Cerro de São Bento pelas inúmeras escadas até ao topo. Assim que se chega a Salta é possível observar a diferença das pessoas em termos físicos, a maior parte dos Saltenhos tem traços indígenas, muito parecidos com os Bolivianos.

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No hostel onde fiquei, que eu não recomendo, (no entanto se procuras recomendações de estadia em Salta, posso indicar o Coloria hostel, que ouvi falar bastante bem) conhecemos uma rapariga Alemã e um rapaz Israelita que alinharam em alugar um carro todos juntos para partirmos à descoberta. É uma das formas preferidas dos viajantes para conhecer as províncias de Salta, Tucuman e Jujuy. Tudo depende do tempo disponível para conhecer estas regiões. Eu diria que o tempo mínimo é de 5 dias, mas com mais tempo aproveita-se melhor e conduz-se menos horas por dia! Quanto a alugar um carro, aconselho a 100% fazê-lo. Não faltam agências de aluguer de automóveis, eu aluguei com uma agência na Calle Buenos Aires e correu tudo lindamente.

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Prontos para começar a aventura na estrada!

DIA 1: SALTA-CAFAYATE (310km / ~10h) Saída de Salta em direcção a Cafayate pela Ruta 40, passando por Cachi.

Saindo de Salta não demorou muito até que a paisagem se alterou e ficámos rodeados de montanhas, cactos e formações rochosas. Um espetáculo, mesmo! O tempo estava um pouco encoberto mas mesmo assim a paisagem era de cortar a respiração. Chegámos a Cachi passadas 4 horas (150Km) e parámos para comer uma humita, passear pela vila e seguimos caminho. A Ruta 40 é conhecida por ser uma das rotas mais conhecidas pela sua beleza mas também pelas suas condições precárias, razão pela qual de Cachi até Cafayate demorámos perto de 6 horas para fazer 160Km. Mas não te assustes porque faz-se muito bem; apetece parar a cada 5 minutos para tirar uma foto. O cenário é mágico e conduzir nesta estrada é maravilhoso! A estrada era praticamente nossa, não se via quase carros nenhuns e a cada curva éramos presenteados com uma nova formação rochosa, parte da Quebrada de las Flechas. Já quase a ficar de noite parámos (quase pela décima vez) para subir a umas rochas e ver o pôr do sol. Um momento para recordar.

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Atracões: Parque Nacional los Cordones, Quebrada de las Flechas, Valles Calchaquíes

Hostel: Casa Arbol (muito bom, 5 estrelas)

DIA 2: CAFAYATE-SALTA (196Km) pela Quebrada de las Conchas.

Em Cafayate não podes deixar de provar o vinho delicioso que esta região oferece e quem sabe visitar uma bodega e vinícolas da região. Há muitas opções e todas são encantadoras. El Esteco é uma das mais importantes na Ruta del Vino de Cafayate, fica a sugestão. Aqui podes conhecer mais sobre a produção local e tudo o que está relacionado com o assunto. Recomendo também uma paragem na La casa de las empanadas, onde podes escolher entre muitos sabores!

O nosso objectivo do dia era chegar a Salta para depois continuar para o Norte, mas não resistimos em ir até às Ruínas Arqueológicas de Quilmes (sitio arqueologico de los Quilmes) que fica a 50Km a sul de Cafayate, já na província de Tucuman. Visitámos também o pueblo Quilmes que fica a caminho, que era uma tribo indígena conhecida por ter resistido à invasão inca. Nas ruínas, ainda é possível ver a fortaleza que os Quilmes construíram para proteger e poder avistar de longe os inimigos. É um lugar muito interessante para visitar pela sua história, para não falar que é um sitio espetacular cheio de cactos gigantes e uma vista incrível. Aconselho a visitares o centro de interpretação e o Museu antes de ires até as ruínas, vai tudo fazer mais sentido.

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Depois do dia anterior, não acreditava que fosse possível que a paisagem melhorasse. Assim que deixámos Cafayate, depois de visitar Quilmes, os seguintes 50Km pela Ruta Nacional 68 foram absolutamente deslumbrantes em termos de paisagem. A Quebrada de las Conchas, conhecido também como o paraíso vermelho, é uma área extensa composta por diferentes formações rochosas conhecidas por fazerem lembrar certas coisas: castelos, comboios, sapos, etc. A ideia é ir conduzindo e parando nestes lugares, mas vai com bastante atenção porque é fácil  perder algumas destas atrações. Por ordem, desde que saímos de Cafayate de volta a Salta vais encontrar Los Castillos, El Obelisco, Anfiteatro, Mirador Tres Cruces, Garganta del Diablo, entre outras que são mais difíceis de encontrar. Estas estão bem assinaladas! Perde-te por estes lugares, sai do carro e caminha até elas, sobe a Garganta Del Diablo, não fiques apenas no início a tirar fotos. É uma viagem espetacular. Acabámos por dormir em Salta porque já era tarde para continuar a conduzir.

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DIA 3: SALTA-TILCARA com paragem em San Salvador de Jujuy e Purmamarca.

Na manhã seguinte partimos bem cedo em direção a San Salvador de Jujuy, a capital da província de Jujuy. Tens duas opções de caminho para lá chegar: pela estrada principal (auto-estrada) ou pela nacional. Na altura usámos maps.me como o nosso GPS e indicou-nos o caminho pela estrada nacional, nem nos apercebemos que havia outra opção. Demorou muito mais tempo mas a paisagem é espetacular, muito verde à volta, rios e cascatas. A estrada está em boas condições mas tem muitas muitas curvas e..animais na estrada! Chegando a S.S. de Jujuy parámos para almoçar, beber um café e passear pela cidade. Talvez não aconselhe parar em S.S de Jujuy se vais com o tempo contado, não achei nada de especial. É uma cidade grande comum. Depois de darmos umas voltas por lá, seguimos viagem até Purmamarca.

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A 66Km de Jujuy encontra-se o povo de Purmamarca, conhecido por dar lugar ao Cerro de las Siete Colores. Um clássico postal do norte do país! Paragem obrigatória. Não consigo explicar a energia destes lugares, todos estes povos no norte são mágicos, rodeados de montanhas por todas as partes. Purmamarca conserva ainda a arquitetura colonial, os tons castanhos das casas construídas com tijolo de barro e o piso em terra batida. Demos a volta toda à vila em apenas meia hora, perdemo-nos pelas lojinhas de artesanato na praça central, caminhámos por entre as montanhas que rodeiam Purmamarca e sentámo-nos a apreciar a paisagem por um bom bocado. A melhor hora para observar o Cerro de las Siete Colores é depois das 10h da manhã quando o sol começa a incidir e é possível observar as diferentes camadas de cores. Cada camada refere a um período geológico diferente, são mais de 75 milhões de anos envolvidos na formação desta montanha.

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Depois de processar esta experiência e refletir sobre tudo o que nos rodeava seguimos viagem até Tilcara onde passámos a noite. Também é possível passar a noite em Purmamarca. Apesar do povo ser bastante pequeno tem boas infraestruturas para receber turistas.

Atrações: San Salvador de Jujuy, Purmamarca, Cerro de las Siete Colores

Hostel: Tilcara Hostel (5 estrelas)

DIA 4: TILCARA-HUMAHUACA. HUAMAHUACA-TILCARA.

De manhã passeámos um pouco por Tilcara, outra vila de cultura indígena, paisagens de cortar a respiração, pessoas vestidas de forma muito colorida, já a lembrar bastante a Bolívia. Aqui pelo Norte as pessoas mastigam muito folhas de coca para combater a falta de energia que resulta das altas altitudes. Eu provei mas não gostei nada do sabor. No entanto o chá de folha de coca já é suportável e também ajuda com as dores de estômago, dores de cabeça ou falta de energia. Fica a dica!

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A 45 minutos de distância está Humahuaca, o povo que dá nome à Quebrada de Humahuaca, património cultural da humanidade da UNESCO. A Quebrada tem 155Km de comprimento, estendendo-se em sentido norte-sul até à fronteira com a Bolívia. Vai desde Volcán e passa for Purmamarca e Tilcara também.

Aconselho a parar no povo de Humahuaca para conhecer e seguir caminho até à Serrania del Hornocal. Aqui está o Cerro de las 14 Colores, a 4350 metros acima do nível do mar! Uma das paisagens mais espetaculares de sempre, um espectáculo por si só de formas e cores. Este caminho é praticamente todo em terra batida e deve de ser feito muito devagar. Na altitude o consumo aumenta por isso assegura-te que tens gasolina suficiente para chegar até lá! Não é só o carro que sofre, vai parando para te aclimatizares à altitude. À medida que começas a subir, a respiração vai ficando mais pesada e a altitude faz-se sentir. Bebe muita água antes e durante, ajuda bastante. Assim que te vais aproximando vais começar a ver a montanha colorida em forma de triângulos. Parece que foi feita por alguém, mas é só mais uma dádiva da natureza. Com o carro só podes ir apenas até um certo ponto, mas se quiseres ir mais perto podes ir até ao mirador descendo 300 metros. Há quem prefira não fazê-lo porque é puxado a nível físico voltar a subir devido à altitude. Pode mesmo ser perigoso para quem não esteja preparado fisicamente. Se te sentires bem vai, tens uma vista incomparável e claro, podes tirar melhores fotos!

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Neste mesmo dia voltámos para Salta porque tinhamos de entregar o carro no dia seguinte às 9 da manha, mas desta vez optámos pelo caminho mais rápido, uma vez que já tinhamos feito o trajeto antigo pela Ruta 9. Aqui também pudemos encher o depósito do carro, não faltam estações de serviço.

Atrações: Quebrada de Humahuaca, Serrania del Hornocal (Cerro 14 Colores)

Sem dúvida que um dos pontos altos da minha viagem até agora foi o Norte da Argentina e acho que alugar um carro é um “must do”. Há tours que fazem estes trajetos mas não é a mesma coisa. A liberdade de poder parar onde te apetece e escolher onde queres ficar mais tempo não tem preço. Seguramente que se estás sozinho/a, vais encontrar rapidamente alguém no Hostel ou quem sabe num bar ou numa free walking tour pela cidade de Salta que se queira juntar a ti! Boa sorte e alguma dúvida que tenhas sobre o que quer que seja não hesites em perguntar nos comentários.

Safe travels!

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